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Ciência e Tecnologia nas Relações Internacionais: conceito e importância

Introdução

O desenvolvimento da ciência e da tecnologia tem acarretado diversas transformações na sociedade contemporânea, refletindo em mudanças nos níveis econômico, político e social. É comum considerarmos a ciência e a tecnologia como motores de progresso que proporcionam não só o desenvolvimento do saber humano, mas também uma evolução para o homem. Vistas dessa forma, subentende-se que ambas trarão somente benefícios à humanidade. Porém, confiar excessivamente na ciência e na tecnologia e identificá-las com seus produtos pode ser perigoso, pois isso supõe um distanciamento delas em relação às questões com que se envolvem. Por outro lado, as finalidades e interesses sociais, políticos, militares e econômicos que resultam no impulso dos usos de novas tecnologias são também os que implicam enormes riscos, porquanto o desenvolvimento científico-tecnológico e seus produtos não são independentes de seus interesses.

O sistema de Ciência e Tecnologia (C&T) está, nos dias de hoje, muito vinculado ao ambiente internacional, pois o processo de globalização deslocou os temas tratados entre sociedade e Estado para o debate internacional, tendo levado ao surgimento de uma sociedade civil global e de formas de governança globais. Globalização é o processo que constitui um sistema social com a capacidade de operar como uma unidade em escala planetária em tempo real ou determinado. Embora nem tudo ou todo mundo seja globalizado, as redes globais que estruturam o planeta – tais como os mercados financeiros, a produção e distribuição global de bens e serviços, a média internacional e as redes globais de ciência e tecnologia – [...] “afetam a tudo e a todos”.

Portanto, neste artigo pretende-se abordar sobre a Ciência e Tecnologia, procurando saber como ela se manifesta no seio das relações internacionais.

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Conceito de Ciência e Tecnologia

Ciência (do latim scientia, traduzido por "conhecimento") refere-se a qualquer conhecimento ou prática sistemática. Em sentido estrito, ciência refere-se ao sistema de adquirir conhecimento baseado no método científico bem como ao corpo organizado de conhecimento conseguido através de tais pesquisas.

De acordo com a UNESCO, "a ciência é o conjunto de conhecimentos organizados sobre os mecanismos de causalidade dos fatos observáveis, obtidos através do estudo objetivo dos fenômenos empíricos"; enquanto "a tecnologia é o conjunto de conhecimentos científicos ou empíricos diretamente aplicáveis à produção ou melhoria de bens ou serviços".

Tecnologia é um produto da ciência e da engenharia que envolve um conjunto de instrumentos, métodos e técnicas que visam a resolução de problemas. É uma aplicação prática do conhecimento científico em diversas áreas de pesquisa.

Classicamente, o objetivo principal da ciência tem sido o da construção de conhecimento e compreensão, independentemente das suas potenciais aplicações — por exemplo, investigar as reações químicas que um composto orgânico sofre de modo a aprender sobre a sua estrutura.

A ciência satisfaz a curiosidade do ser humano. Uma curiosidade básica, essencial, provavelmente ligada à evolução da espécie. A ciência faz a humanidade evoluir. É graças a ela que você está lendo esse texto na tela de um computador. A ciência busca compreender a realidade através do pensamento racional e da observação sistemática dos fatos, considerando as relações entre eles e levando à possibilidade de controlar e de prever acontecimentos.

Conceito de Ciência

A ciência é o esforço para descobrir e aumentar o conhecimento humano de como o Universo funciona. Refere-se tanto à (ao):
  • Investigação ou estudo racionais do Universo, direcionados à descoberta de fatos compulsoriamente atreladas e restritas à Realidade Universal. Tal estudo ou investigação é metódico e compulsoriamente realizado em acordo com o método científico – um processo de avaliar o conhecimento empírico;
  • Corpo organizado de conhecimentos adquiridos por tais estudos e pesquisas.

A ciência é o conhecimento ou um sistema de conhecimentos que abarca fatos, os mais gerais e abrangentes possíveis, bem como a aplicação das leis científicas; ambas especificamente obtidas e testadas através do método científico.

Conceito de Tecnologia

Tecnologia é o conjunto de técnicas, habilidades, métodos e processos usados na produção de bens ou serviços, ou na realização objetivos, como por exemplo em investigações científicas. O termo tecnologia pode ser usado para representar tanto o domínio de técnicas e processos, quanto a implementação de funcionalidades em máquinas para que essas possam ser operadas sem o pleno conhecimento do seu funcionamento interno.

A forma mais simples de tecnologia é o desenvolvimento e a utilização de ferramentas. A descoberta pré-histórica de como controlar o fogo e a subsequente Revolução neolítica aumentaram a disponibilidade de fontes de alimento, enquanto a invenção da roda auxiliou humanos a viajar, transportar cargas e controlar seu ambiente. Desenvolvimentos ao longo da história, como a prensa móvel, o telefone e a Internet diminuíram as barreiras físicas da comunicação e permitiram interações sociais em escala global.

Importância e Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia

Tecnologia

Análoga à história da ciência na modernidade, a tecnologia2 sofre e causa transformações profundas de caráter político, econômico, social e filosófico, na história do séc. XVII em diante. Por isso, Miranda (2002) afirma que a tecnologia moderna não pode ser considerada um mero estudo da técnica. Ela representa mais que isso, pois nasceu quando a ciência, a partir do renascimento, aliou-se à técnica, com o fim de promover a junção entre o saber e o fazer (teoria e prática).

Nesse sentido, Bastos (1998) corrobora ao afirmar que a tecnologia é um modo de produção, o qual utiliza todos os instrumentos, invenções e artifícios e que, por isso, é também uma maneira de organizar e perpetuar as vinculações sociais no campo das forças produtivas. Dessa forma, a tecnologia é tempo, é espaço, custo e venda, pois não é apenas fabricada no recinto dos laboratórios e usinas, mas recriada pela maneira como for aplicada e metodologicamente organizada.

Isso evidencia que, se considerarmos que a tecnologia moderna está inserida e se produziu num contexto social, político e econômico determinado, então a nossa visão sobre a tecnologia e o seu papel na sociedade deverá ser diferente daquela que prega que a tecnologia é um "mal necessário", pois, se compreendemos que ela surgiu em certo período histórico, ela não é inerente à condição humana, ou seja, não é tão antiga quanto a técnica.

Por isso, é necessário fazermos uma avaliação crítica sobre a tecnologia, sua constituição histórica e sua função social, no sentido de não só compreender o sentido da tecnologia, mas também de repensar e redimensionar o papel da mesma na sociedade. Segundo Miranda (2002), conforme a avaliação dos frankfurtianos, é necessário dirigir a razão (o pensar) para a emancipação do homem, e não para sua escravidão, como ocorre na razão instrumental, e também conduzir a razão para emancipação, com uma maior autonomia da ciência, que nos tempos modernos tornou-se escrava da tecnologia, para redefinir qual a função social da ciência, da técnica e da tecnologia.

Passados mais de três séculos, a história do desenvolvimento tecnológico nos dá condições suficientes para avaliar as significações da tecnologia moderna que modelou a sociedade como industrial, pós-industrial e, por último, da sociedade informática. Miranda (2002) cita que, segundo alguns pensadores da atualidade, como Robert Kurz, Ramonet, Boaventura Santos, vivemos, hoje, o "colapso da modernização", começando pela própria confiança absoluta na ciência que emanciparia o homem de toda escravidão, obscurantismos e medo. Fato que não ocorreu. O que constatamos, na atualidade, é a escravidão do próprio homem pelas suas invenções e descobertas tecnológicas, só possíveis graças à aliança entre ciência e técnica. Os autores citados ainda acrescentam que na história da humanidade, nunca tantas pessoas morreram de fome, na miséria ou pela violência, afirmação cujos dados são apontados por Boaventura Santos (2000). Miranda (2002) expõe também a opinião de Hobsbawn (1995) sobre a história do século XX, quando considera que vivemos a era dos extremos, devido aos paradoxos que se nos apresentam. A começar pelo próprio avanço tecnológico de um lado e o extermínio de culturas e povos (seja pela miséria, seja pela guerra) de outro.

Arocena (2004) complementa que a tecnologia tem multiplicado e transformado qualitativamente o poder de produzir e destruir, de curar e depredar, de ampliar a cultura dos seres humanos e de gerar riscos para a vida, sendo que esse poder, associado aos perigos, está distribuído social e regionalmente de maneira muito desigual. Dessa maneira, a ciência e a tecnologia têm feito que o poder se fixe nas mãos de alguns seres humanos.

Ciência

O surgimento do que se chama hoje por ciência moderna é normalmente definido como coincidente com o início da Idade Moderna e com uma fase da história que ficou conhecida como a Revolução Científica dos séculos XVI e XVII. Esse período sucede o final da Idade Média e engloba a Renascença, época marcada pela retomada dos conhecimentos clássicos produzidos pelos gregos há cerca de dois milênios atrás e por uma subsequente enorme evolução nas ideias científicas ligadas à física, à astronomia, e à biologia, entre outras.

Dada a acuracidade da teoria da mecânica frente os fatos conhecidos à época, nos dois séculos que se seguiram as ideias mecanicistas do universo se propagaram com vigor não só para as diversas subáreas da física como também para as mais variadas áreas do conhecimento, e sua difusão seria tão frutífera abrangente que a visão de mundo mecanicista perduraria sólida e inabalável até o primeiro ano do século XX, ano em que Max Planck e cinco anos mais tarde Albert Einstein estabeleceriam um segundo marco na ciência, e levariam a ciência moderna à era da física moderna. Graças à física a ciência moderna se estabelecera, e graças a ela a ciência moderna evoluiria a passos largos no século XX - a ponto deste século ser reconhecido pela comunidade científica como o século da física.

As mudanças mais recentes e significativas nos paradigmas científicos em tempos atuais se devem contudo não à física mas sim à outra área da ciência natural, a biologia. Ao que tudo indica, apoiada pelo avanço tecnológico-científico ocorrido, a biologia será para a ciência do século XXI o que a física representou para a mesma no século XX.

Em uma visão cronológica a ciência nasceu como uma tentativa de se descobrir respostas para os questionamentos humanos, questionamentos como "o que há lá fora?", "do que o mundo é feito?", "qual é o segredo da vida?" e "como chegamos até aqui?". Mais do que capaz de satisfazer a curiosidade, mostrou-se gradualmente como uma verdadeira ocupação, inspirando trabalhos de vidas inteiras. Isso porque percebeu-se que, por meio da observação e experimentação - do método científico - era possível não só compreender o mundo que nos cerca mas também a nós mesmos, isso de forma a impelir o desenvolvimento de novas tecnologias e, assim, melhorar a qualidade de vida das pessoas. Nesse sentido, embora não exista por si só e sim como uma produção humana, a ciência é, de longe, a ferramenta mais indispensável à manutenção do progresso.

Importância

Assume-se, do ponto de vista econômico, que o avanço tecnológico se apresenta como uma demanda interna do modo de produção capitalista que precisa crescer em produtividade. Politicamente, seu domínio constitui-se como um aspecto de diferenciação entre os países valorizando aqueles que o detêm, por ser uma fonte multifacetada que capacita um Estado no exercício direto e/ou indireto do poder. No primeiro caso, se apresenta como base para o incremento da indústria bélica e no segundo, constitui-se como um conhecimento negado a outros Estados, cujo lugar na ordem internacional permanece sendo o de importador de tecnologias prontas sem transferência de know-how.

Argumentamos que a importância da tecnologia é percebida tanto pelos países desenvolvidos (PD), detentores de know-how, quanto por aquelas economias mais avançadas dentre as em desenvolvimento, chamadas países intermediários (PI), incorporando a classificação de Ricardo Sennes (2001). Por PI considera-se “estados que intuitivamente ocupam uma posição intermediária no rank of international political capabilities ou, em outras palavras, países que possuem um nível intermediário de importância política e econômica” (Sennes, 2001, p. 26).

Dado o alto grau de interdependência e competitividade mundial, aos PD interessará uma difusão controlada e relativa do conhecimento científico-tecnológico, que não deverá contemplar áreas sensíveis e estratégicas. Aos demais se faz necessária a aquisição de tecnologias que incidam positivamente sobre sua produtividade, estimulando o desenvolvimento econômico nacional. Entretanto, dada sua condição média, consideramos que aos PI interessará não só esse conhecimento, mas também aquele estratégico que qualifica internacionalmente um país – muitas vezes tecnologias de caráter dual - e que podem contribuir não só para seu crescimento econômico, mas para o aumento da autonomia relativa e valorização externa.

Ciência e Tecnologia nas Relações Internacionais

Cooperação é diferente da harmonia, sendo esta o oposto ao desacordo. Segundo o autor, a cooperação não é apenas o resultado de uma harmonia de interesses, mas sim a consequência de um ajuste mútuo, uma vez que deve-se considerar os interesses da outra parte. Nesse sentido, a cooperação surge por meio de um desacordo potencial entre as partes, sendo esse desacordo necessário para que haja cooperação; do contrário, a relação seria caracterizada apenas como harmonia (KEOHANE, 1984).

A C&T encontra-se entre as principais áreas de interesse das Relações Internacionais, pois muitos temas tratados pelos pesquisadores estão associados, direta ou indiretamente, à interdependência e à interpenetração das sociedades. Bem antes das transformações sociais, políticas e econômicas possibilitadas pelo uso da internet, a ampla difusão de meios de transporte e de comunicação de massa (automóvel, avião, rádio, televisão, etc.) levou ao movimento internacional de pessoas, informações e ideias em uma escala até então sem precedentes. O crescimento da indústria, especialmente a de alta tecnologia, aumentou a confiança dos empresários nos mercados e nos capitais de forma a ultrapassarem as fronteiras nacionais. O desenvolvimento de tecnologias globais passou a requerer cooperação multinacional e a criar dependências transnacionais. A divulgação ampla dos assuntos nacionais e internacionais pela imprensa contribuiu para diluir a distinção entre temas domésticos e externos. Questões estratégicas e militares foram alteradas com as mudanças no poder destrutivo, na velocidade e no custo dos armamentos (SKOLNIKOFF, 1971).

Embora a Ciência e Tecnologia possua interfaces com diversos sistemas (econômico, político, jurídico etc.), a cooperação científica internacional em larga escala teve início com a criação da ONU, em 1945, e de suas agências especializadas. Motivados pelo espírito de cooperação surgido logo após a Segunda Grande Guerra, bem como pela facilidade de transporte e de comunicação, cientistas de todo o mundo conseguiram trabalhar conjuntamente em diversas iniciativas internacionais, mesmo diante das tensões políticas mundiais ocorridas durante a Guerra Fria. Entre as primeiras articulações globais com esse propósito encontra-se o Ano Internacional da Geofísica, proclamado pela Assembleia Geral da ONU em 1957 com o objetivo de proporcionar a melhor compreensão dos fenômenos relacionados às Ciências da Terra.

Patrocinado pelo Conselho Internacional para a Ciência (ICSU), em conjunto com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o Ano Internacional da Geofísica envolveu milhares de cientistas de 60 países e serviu de exemplo para outras iniciativas, tais como a criação, em 1958, do Comitê Científico sobre Pesquisa Antártica (SCAR). Cerca de 10 anos depois, a Fundação Rockefeller criou o Grupo Consultivo em Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR), que posteriormente passou a atuar em conjunto com o Banco Mundial, a FAO e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Ao promover e coordenar a realização de programas de pesquisa agrícola em todo o globo, o CGIAR cresceu como resposta internacional às preocupações generalizadas de que muitos países em desenvolvimento poderiam sucumbir à fome (KEENAN et al., 2012).

Atualmente a ciência, mais do que nunca, é o resultado do esforço internacional. A troca de ideias e de informações científicas em escala global tem sido essencial não apenas para o progresso da ciência, mas também para a resolução de problemas que são inerentemente de natureza internacional, tais como as mudanças climáticas e a expansão de epidemias (Aids, gripe suína, etc.). Isso requer uma nova abordagem global para pesquisa em muitas áreas do conhecimento. Porém, o desenvolvimento de uma ciência verdadeiramente global é um conceito complexo e ainda em evolução. Ele exige muito mais sinergia entre as instituições de pesquisa nacionais e internacionais. Grande parte do apoio financeiro para a ciência continua ocorrendo apenas nacionalmente, sendo os Estados Unidos, o Japão e diversos países europeus os maiores investidores em Ciência e Tecnologia em seus respectivos territórios – o Brasil já é mais reconhecido em relação a isso, juntamente com a China e a Índia. No entanto, a obtenção de recursos para a ciência internacional é muito mais difícil em virtude da necessidade de prestação de contas dos governos perante seus contribuintes (KEENAN et al., 2012).

O que podemos concluir com o avanço da ciência e tecnologia

Com o avanço da ciência e tecnologia nota-se claramente que o mundo parece depender cada vez mais do conhecimento científico e tecnológico. A concepção clássica das relações entre ciência, tecnologia e sociedade, muitas vezes presente nos diversos âmbitos do mundo acadêmico e nos meios de divulgação, é uma concepção essencialista e triunfalista, na qual se presume que mais ciência produz mais tecnologia que gera mais riqueza e, consequentemente, mais bem-estar social. Autores como Echeverría (1995), Garcia, Cerezo e López (1996) e López e Cerezo (1996) complementam que ciência e tecnologia são apresentadas como formas autônomas da cultura, como atividades valorativamente neutras, como uma aliança heroica de conquista da natureza.

Cerezo (2002) argumenta que a expressão política dessa autonomia, cuja gestão de mudança científico-tecnológica deve ser deixada nas mãos dos próprios especialistas, teve início depois da Segunda Guerra Mundial, época em que havia intenso otimismo sobre as possibilidades da ciência/tecnologia e apoio incondicional à sua expansão. A elaboração doutrinária desse manifesto de autonomia em relação à sociedade deve sua origem a Vannevar Bush, um cientista norte-americano envolvido no Projeto Manhattan para a construção da primeira bomba atômica. Nesse mesmo período, o cientista também entrega ao então presidente Truman o relatório Science - The Endless Frontier ("Ciência: a fronteira infinita"). Nesse relatório, são definidas as linhas mestras da futura política científico-tecnológica norte-americana, destacando o modelo linear de desenvolvimento, ou seja, que o bem-estar nacional depende do financiamento da ciência básica e o desenvolvimento sem interferências da tecnologia, defendendo que, para que o modelo funcione, é necessário manter a autonomia da ciência.

Dessa forma, o desenvolvimento tecnológico e o progresso social viriam naturalmente. Sobre essa questão, Garcia, Cerezo e López (1996) argumentam que a ciência, somente enquanto a busca da verdade, era concebida como alavanca de desenvolvimento tecnológico, um desenvolvimento que se supunha na base da Revolução Industrial e, em última instância, da realização social dos ideais da revolução política franco-americana. Autores críticos como Marcuse, Habermas ou Feyerabend afirmam que a razão do estado é a razão científica, de forma que o que impera é a tradição instrumental da ciência com sua linguagem de feitos inegáveis e razões inapeláveis. Criticam, ainda, que a democracia era concebida dentro dos limites marcados pela ignorância da população sobre a maioria dos temas importantes; uma ignorância supostamente compensada pela destreza esotérica dos especialistas a serviço do estado e suas corporações.

Apesar de toda euforia em torno do desenvolvimento científico-tecnológico, autores como Garcia, Cerezo e López (1996) e Sanmartín et al. (1992) afirmam que, em meados da década de 1950, indícios apontavam que o modelo linear unidirecional não era tão promissor quanto parecia ser, pois a Rússia, em 1957, colocava em órbita, ao redor da Terra, o Sputnik, um pequeno satélite do tamanho de uma bola, mantendo-se na vanguarda da ciência e da tecnologia, confirmando os indícios de que o modelo linear de desenvolvimento científico-tecnológico ocidental estava falhando. Essas desconfianças foram confirmar-se nas décadas seguintes quando ocorrem desastres vinculados ao desenvolvimento científico-tecnológico: vazamentos de resíduos poluentes, acidentes nucleares em reatores civis e de transportes militares, envenenamentos por produtos farmacêuticos, derramamentos de petróleo etc., que serviram para confirmar a necessidade de se revisar a política científico-tecnológica.

O projeto Manhattan e sua aplicação em Hiroshima, além de outros casos de desenvolvimentos tecnológicos vinculados à guerra e utilização militar, na opinião de Garcia, Cerezo e López (1996), representaram o primeiro ponto de inflexão da concepção otimista do caráter benfeitor da ciência-tecnologia, junto com as preocupações dos problemas ambientais. Publicações como Silent Spring, de Rachael Carson (1962), que levantavam os riscos associados aos inseticidas DDT, e Estrutura das Revoluções Científicas, de Thomas Kuhn (1962), que introduzia conceitos sociais para explicar a dinâmica e o desenvolvimento da ciência, exerceram influências na reação acadêmica, começando-se a falar sobre os efeitos negativos das tecnologias, assim como se colocava em questão sua neutralidade política, social e econômica que, até o momento, eram tidas como benfeitoras.

Para que o desenvolvimento científico e tecnológico seja menos excludente, é necessário que se levem em conta os reais problemas da população, os riscos técnico-produtivos e a mudança social. Por isso, faz-se necessário ter uma visão interativa e contextualizada das relações entre ciência, tecnologia, inovação e sociedade e, muito especialmente, das políticas públicas mais adequadas para se gestionarem as oportunidades e perigos que envolvem uma mudança técnica. Ou seja, a questão não é tanto se a ciência é boa ou não, mas sim se pode melhorar e como.

A construção de tais políticas pode ser favorecida por meio do movimento CTS (Ciên-cia, Tecnologia e Sociedade) que, nos anos 1960 e 1970, começou a se manifestar na comunidade acadêmica, cuja insatisfação com as concepções tradicionais da ciência e da tecnologia e a preocupação com os problemas políticos e econômicos decorrentes do desenvolvimento científico-tecnológico e com os movimentos sociais de protestos, começou a buscar análise e estudo na área de CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade). No Brasil, tais estudos são muito recentes e, segundo Bazzo (1998, p. 218), essa abordagem posiciona "uma reação social crítica ao cientificismo e à tecnocracia" e busca compreender a dimensão social da ciência e da tecnologia em relação aos fatores de natureza social, política e econômica, responsáveis pela mudança científica e tecnológica, e, também, no que diz respeito às repercussões éticas, ambientais ou culturais dessa mudança.

Indicadores de Ciência e Tecnologia em Moçambique

Desde Julho de 2003 que Moçambique tem uma política de ciência e tecnologia. Esta é uma política de base, transversal, com o objectivo principal de estimular a inovação nacional em benefício do desenvolvimento e do combate à pobreza. Ela assenta em quatro pilares: educação, investigação, actividades produtivas e disseminação. É através de um reforço da capacidade interna de cada um destes pilares, bem como de uma melhoria da comunicação entre eles que a política procura promover a inovação nacional desejada, recorrendo, por um lado aos recursos existentes dentro do país e, por outro, a conhecimentos científicos e tecnologias desenvolvidos no exterior.

A formulação da política de ciência e tecnologia justifica-se pela mudança que se verifica na organização económica ao nível global. A capacidade de um país criar riqueza depende cada vez menos dos seus recursos naturais, e cada vez mais da sua capacidade de transformar recursos em bens de produção e de consumo e serviços. É nesta transformação que a ciência e tecnologia ocupam um lugar fulcral. De facto, o valor da maior parte dos bens depende principalmente da ciência e tecnologia neles incorporadas. Assim, para Moçambique não ficar marginalizado numa sociedade global de conhecimentos, é necessário que se invista de uma forma estratégica nas suas capacidades científicas e tecnológicas.

Investir na ciência e tecnologia de uma forma estratégica exige que se conheça a sua realidade. Avaliar o impacto das intervenções desenhadas no quadro da política de ciência e tecnologia exige que se definam indicadores que descrevem o progresso realizado. É neste contexto que surge esta publicação que pretende dar um informe global do estado da ciência e tecnologia no país.

Conclusão

Terminado trabalho, pôde concluir-se que a ciência pode ser entendida como o empreendimento humano de descrever, compreender, explicar e predizer os fenômenos, assim como as relações existentes entre as características desses fenômenos, fazendo uso do empirismo, do ceticismo, do método científico e da tecnologia.

A Ciência, tecnologia e inovação estão de certa forma interligadas, pois são fundamentais para o avanço da sociedade. A ciência permite a humanidade compreender um pouco mais sobre a natureza, a ciência é importante na nossa vida pois nos ajuda a ter uma qualidade de vida melhor, pois através da ciência muitas doenças foram eliminadas. A ciência possibilita avanços na saúde, alimentação, energia e outros.

A ciência está mais presente do que imaginamos, nas pequenas coisas do cotidiano. Podemos começar com o desenvolvimento tecnológico. Seus benefícios estão presentes em toda a nossa rotina, facilitando serviços diários e atividades que, hoje, não imaginamos de outra forma.

A ciência, a tecnologia e a inovação (CT&I) “são, no cenário mundial contemporâneo, instrumentos fundamentais para o desenvolvimento, o crescimento econômico, a geração de emprego e renda e a democratização de oportunidades”.

De forma mis sucinta, podemos concluir que pesquisa contribui para a geração de conhecimento e para o desenvolvimento da humanidade. Os investimentos em pesquisa e inovação nos países de terceiro mundo e/ou em desenvolvimento são importantes ferramentas para sua independência dos países de primeiro mundo. A ciência permite a humanidade compreender um pouco mais sobre a natureza, a ciência é importante na nossa vida pois nos ajuda a ter uma qualidade de vida melhor, pois através da ciência muitas doenças foram eliminadas.



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Ciência e Tecnologia nas Relações Internacionais: conceito e importância

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