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O lugar da Lógica dentro da Filosofia


Na parte primeira de nossa exposição reconhecemos a existência de dois problemas diferentes dentro da questão mais geral da relevância da Lógica para a Filosofia: a própria questão da utilidade da Lógica e a discussão sobre a possibilidade de matematizar o discurso filosófico. Vimos que na História da Filosofia encontramos as quatro possíveis respostas para essas duas questões colocadas conjuntamente. Na segunda parte de nossa exposição vimos que uma grande parte da argumentação filosófica se desenvolve por meio de estratégias, que não se deixam representar por meio de esquemas formalmente válidos de raciocinar e que os conceitos filosóficos não têm a univocidade dos conceitos matemáticos. Vimos também que mesmo entre aqueles filósofos que consideraram a Matemática como modelo de racionalidade – estamos pensando em Descartes e em Brouwer – encontramos rejeição pela Lógica.

Qual é o âmbito da Lógica? Qual a sua relação com a Filosofia? Nesta parte tentaremos dar nossas repostas a essas questões. Segundo Vico, só podemos compreender aquilo que podemos construir (VICO, 1999).4 Isso explicaria por que podemos compreender as ciências matemáticas, pois nelas somos nós quem construímos seus conceitos. O fato de que na Filosofia, segundo as palavras de Descartes “não se encontra ainda uma só coisa sobre a qual não se dispute, e que por conseguinte não seja duvidosa ” (AT, VI, 8) se deve a que o discurso filosófico quer expressar a totalidade da realidade, isto é do dado, e só podemos ter certeza sobre o que construímos. Sabemos com exatidão como funciona um moinho porque ele é obra nossa, mas nosso conhecimento da Natureza é conjetural e provisório, pois nos não somos seus criadores.

Pensamos que a Lógica é relevante para a Filosofia na elucidação daquele saber que se ocupa com entidades construídas por nós. Na Matemática, cujos objetos são nossa obra, a Lógica é uma ferramenta imprescindível na análise da noção de prova matemática. É por isso que a Lógica desempenha papel tão destacado na Filosofia da Matemática. Na ciência exata da Natureza, isto é na Física, onde lidamos com modelos matemáticos da realidade natural, modelos construídos por nos, a Lógica é um instrumento para a análise das noções de justificação empírica, de modelo e de explicação científica. A Lógica tem relevância filosófica, entendida como uma teoria da justificação. Uma vez que se tem conseguido axiomatizar uma disciplina, e uma vez que se tem conseguido identificar determinadas estruturas formais presentes nos argumentos dessa disciplina, estruturas que nós julgamos válidas, podemos encontrar então uma Lógica adequada para ela. Assim foi com a Lógica de primeira ordem a partir da Aritmética (axiomatizada por Peano) e da Geometria (axiomatizada por Euclides e depois por Hilbert), com a Lógica Quântica a partir da Mecânica Quântica e com a Lógica intuicionista, a partir da Matemática construtiva de Brouwer.
Entretanto, vem a nosso encontro uma concepção diferente da Lógica: Trata-se daquela concepção platonizante que concebe a Lógica como uma ciência de entidades abstratas. O que responder a ela? A polêmica entre aqueles que sustentam uma concepção platonizante da Lógica e aqueles que adotam uma concepção construtivista, como a que aqui defendemos parece infindável. A concepção platonizante da Lógica tem sua origem na antiga concepção da Lógica como mathesis universalis que se encontra na obra de Raimundo Lullio. A arte de Lullio consistia numa teoria combinatória sobre os conceitos segundo a qual todos os nossos conceitos são gerados pela combinação de conceitos mais básicos. Esses conceitos mais básicos expressariam as determinações fundamentais da realidade. Leibniz levou adiante na Ars combinatória esse projeto de Lullio e o generalizou com sua concepção de uma ciência universal apresentada, more geométrico, que trataria do que pode ser pensado em geral. Uma Ontologia formal seria um discurso matemático que expressaria a estrutura de tudo aquilo que é real ou pode ser possível.

Uma concepção da Lógica entendida dessa forma pressupõe que nós possamos ter um discurso significativo do ser enquanto tal, e que esse discurso possa ser expressado more geoemetrico. Trata-se da antiga concepção leibniziana-wolffiana, que a filosofia crítica tentou superar. A veste matemática pode adquirir forma diferente, mas o núcleo da concepção permanece o mesmo. Na Idade contemporânea essa concepção adotou uma outra forma que em Leibniz, ao ser tomado como unidade lógica o enunciado e não mais o conceito.

A nossa tese é que a Lógica tem a ver com a Linguagem. Uma Lógica para uma disciplina surge uma vez que se tem elaborado um saber em forma dedutiva e uma vez que se tem identificado regularidades recorrentes nos argumentos que nós intuitivamente julgamos válidos nesse saber.

Mas há saberes onde a axiomatização se mostra difícil ou até impossível, como julgamos ser o caso da Ética e da Metafísica. Isso acontece pela pretensão do discurso filosófico de questionar permanentemente seus próprios supostos e pela sua pretensão à universalidade. Nesses domínios a argumentação filosófica não se deixa encaixar dentro dos esquemas da Lógica formal. Julgamos que para a elucidação da forma de argumentar naquelas disciplinas filosóficas, abordagens à argumentação filosófica como aquelas da Nova Retórica de Perelman ou aquelas da Lógica informal são mais frutíferas.

Escola de Moz

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O lugar da Lógica dentro da Filosofia

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1 Comentários

  1. Interessante este artigo.

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