Vacinas foram desenvolvidas em tempo recorde na pandemia.
Vacinas
de RNA, usadas pela primeira vez na história da humanidade atingiram uma
eficácia altíssima.
O que
permitiu que a ciência alcançasse esse patamar em tão pouco tempo?
É
verdade que toda a tecnologia pra desenvolver as vacinas de RNA como a da
Pfizer e da Moderna já existe há décadas como dizem por aí?
Neste artigo, nós iremos ver:
- A história por trás das vacinas de RNA:
- Como elas são feitas?
- Como elas já estão revolucionando a forma como prevenimos e até tratamos várias doenças até então consideradas incuráveis?
Agora responda… você tem ideia da revolução
que acabou de acontecer na ciência, por causa da pandemia?
Será que as vacinas de RNA realmente vão
acabar com todas as doenças?
Vamos entender tudo, mas pra isso, eu preciso
te contar como uma simples molécula de RNA pode iniciar uma revolução.
Tudo no nosso corpo depende das proteínas:
desde o crescimento dos fios de cabelo até as complexas reações químicas que
controlam o seu pensamento neste momento.
E as nossas células nada mais são do que
fábricas de proteínas.
Elas funcionam dia e noite lendo as instruções
do nosso material genético, o DNA, e a partir dele, produzem as tais proteínas.
Mas nada disso seria possível sem uma molécula
especial: o RNA mensageiro.
Existem milhões deles, de vários tamanhos.
E como o próprio nome diz, eles carregam uma
mensagem.
Cada RNA mensageiro é uma cópia quase idêntica
de uma região do DNA que possui o código para fabricar uma proteína.
Depois de ser produzido bem no núcleo da
célula, ele migra para fora do núcleo, e entrega a mensagem com o passo a passo
para os funcionários da fábrica produzirem uma proteína específica.
É claro que eu simplifiquei aqui.
Essa produção de proteínas a partir do RNA
mensageiro é um processo maravilhoso da natureza que permite a nossa
sobrevivência.
Ou melhor… permite não só a nossa
sobrevivência como também a existência dos vírus.
Vírus
Os vírus precisam das células. Ao invadir as
células, eles roubam a fábrica de produção de proteínas que já está funcionando
normalmente, e a usam para produzir proteínas do próprio vírus.
É o jeito que eles desenvolveram para formar
novas cópias que vão infectar outras células.
Vejam o coronavírus, por exemplo.
Ele libera o seu material genético, o RNA,
dentro da célula.
O RNA, então, é duplicado e a informação
contida nele vai guiar a produção de proteínas do vírus, formando novos
coronavírus.
E eu poderia te dar vários exemplos de outros
vírus aqui. Cada vírus tem uma complexidade e uma particularidade nesse
processo.
Não é atoa que seja tão difícil desenvolver um
único antiviral capaz de tratar todos eles.
Mas se os vírus usam toda essa maquinaria das
células e esse sistema funciona tão bem, porque não usar isso a nosso favor,
para fabricar proteínas que estão em falta ou até mesmo interromper a
fabricação das que estão em excesso?
Ou, quem sabe, porque não usamos esse processo
para combater os próprios vírus?
É aí que começa a grande revolução.
História
das vacinas RNA
Em 1978 cientistas dos Estados Unidos e da
Inglaterra conseguiram produzir proteínas em laboratório a partir de RNA
mensageiro que era entregue às células.
Algo nunca antes visto.
Eles viram que, encapsulando o RNA mensageiro
em uma bolha de gordura, ele poderia ser absorvido pelas células em placas no
laboratório.
Era incrível.
As células passavam a produzir a proteína de
acordo com a instrução contida no RNA mensageiro.
Na época, os cientistas nem imaginavam a
revolução que eles iniciaram naquele ano.
Até então, essa era mais uma pesquisa básica,
sem aplicabilidade imediata.
Quase 10 anos depois, em 1988, o pesquisador
Robert Malone conseguiu repetir esse mesmo experimento, mas dessa vez não em
células isoladas.
Ele testou organismos mais complexos: embriões
de rã e camundongos.
O
resultado foi surpreendente: o RNA mensageiro entregue
ali era capaz de guiar a produção de proteínas que não seriam produzidas de
outra forma.
Incrível, pensou ele.
Se as células de um organismo vivo conseguem
criar proteínas a partir do RNA mensageiro que é entregue a elas, seria possível
usar esse RNA para produzir uma proteína em falta e tratar doenças, como se
fosse um “remédio” O tal Robert Malone tinha um futuro brilhante pela frente.
Ele até tentou produzir vacinas de RNA contra
coronavírus comuns, esses que causam resfriados, na década de 90, mas não
conseguiu financiamento.
Olha só!
Hoje ele se sente injustiçado por não ser
reconhecido como o criador da tecnologia e dissemina desinformação sobre as
vacinas da COVID.
O mundo dá voltas, não é mesmo?
Mas a verdade é que não foi ele, Robert Malone
que revolucionou de vez a história das vacinas de RNA.
Logo depois dos experimentos que ele fez com
rãs e camundongos em 1988, o RNA mensageiro começava a ser visto como uma
molécula poderosa, capaz de tratar doenças. Mas durante muitos anos, o uso do
RNA mensageiro foi visto como muito trabalhoso e caro.
O principal problema é que o RNA mensageiro se
degrada facilmente.
Você já deve ter ouvido falar sobre isso.
O desafio era encontrar maneiras de entregar
pra célula um material tão sensível como ele.
Era preciso desenvolver algo capaz de realizar
o transporte do RNA e fazê-lo sobreviver ali ao sangue e ao ambiente inóspito
de um organismo vivo.
O que mais deu certo foi usar lipossoma, que
nada mais é que uma cápsula de gordura que vai proteger o RNA mensageiro de ser
degradado durante o percurso no corpo.
O lipossoma é capaz de se fundir com as
células, entregando aquele componente precioso na mais perfeita segurança.
Com o lipossoma, nós estávamos prontos pra
testar a primeira vacina de RNA.
Em 1993, começaram os testes em camundongos da
primeira vacina de RNA mensageiro.
Ela foi desenvolvida contra o vírus influenza,
que causa gripe.
Mas em camundongos? A gente já tinha feito
isso!
Sim!
A gente já sabia que o RNA mensageiro era
capaz de guiar a produção de proteínas nas células, embriões e até em
camundongos.
Mas será que essas proteínas produzidas seriam
capazes de despertar a resposta imune em seres vivos?
Será que um dia poderíamos usar o RNA
mensageiro em seres humanos?
E os
resultados foram animadores: o RNA mensageiro entregue
aos camundongos através dos lipossomas despertava uma resposta imune com
capacidade protetora!
Mas outra batalha ainda estava por vir.
No início das pesquisas, quando se adicionava
uma quantidade pequena de RNA mensageiro, ele era degradado em segundos dentro
do corpo dos camundongos.
E aí pensaram né.
Vamos aumentar a dose, já que ele se degrada.
Ao aumentar a dose, outro problema aparecia: o
organismo dos animais reconhecia aquele RNA mensageiro como um corpo estranho,
antes mesmo dele conseguir produzir proteínas, e começava o ataque: Uma
resposta inflamatória generalizada e forte que poderia levar o animal à morte.
Várias combinações e estruturas foram testadas
ao longo dos anos para tentar minimizar esse problema.
Mas foi só em 2005 que os pesquisadores Drew
Weissman e Katalin Karikó fizeram uma descoberta que mudaria essa realidade.
Eles viram que substituir a letra U do RNA
mensageiro por uma letra U sintética, era capaz de fazer com que o organismo
parasse de identificar aquele RNA como inimigo.
O segredo então era modificar um pouco o RNA
mensageiro, pra que ele ainda conseguisse chegar até as células e entregar a
mensagem mas sem ser atacado no caminho.
E há quem diga que essa foi a invenção que
possibilitaria o desenvolvimento das vacinas de RNA que nós temos hoje e que
provavelmente vai dar pra essa dupla aí o prêmio Nobel.
Como deu pra ver, inúmeros cientistas do mundo
todo lutaram durante anos para encontrar a fórmula certa de modificar o RNA
mensageiro e encapsular em uma bolha de gordura ideal para que ele fosse
transportado até as células.
Não é algo que surgiu agora!
São peças de ciência e tecnologia que foram se
encaixando.
As pesquisas que deram origem às vacinas de
RNA mensageiro começaram há mais ou menos 30 anos.
Sem os erros e acertos do passado, não
estaríamos aqui hoje, controlando a pandemia de Covid graças a essas vacinas.
Vacinas
de RNA mensageiros na actualidade
No começo de 2020, várias vacinas de RNA
mensageiro já estavam sendo testadas em humanos contra vários vírus como HIV,
zika, influenza e raiva.
Elas realmente eram as grandes promessas.
Mas, misteriosamente, na China, surgia uma
pneumonia mortal.
Era um novo coronavírus.
A receita da vacina já estava pronta, era só
adaptar pra esse novo organismo.
Então os pesquisadores literalmente deram um
CTRL C CTRL V em uma parte do material genético do vírus, montaram um RNA
mensageiro em laboratório, envolveram tudo em uma cápsula de gordura… e pronto!
Como Walter Isaacson conta em A
Decodificadora, 2 dias depois do código genético do vírus ter sido
disponibilizado para pesquisas, a Moderna já tinha o RNA mensageiro em mãos e
38 dias depois, a vacina já estava pronta para ser testada em humanos.
As vacinas contra a Covid da Moderna e também
da Pfizer usam essa tecnologia inovadora.
Elas entregam pras nossas células um RNA
mensageiro pirata, que instrui o organismo a produzir uma proteína da
superfície do coronavírus, o que estimula a geração de uma resposta imune.
O nosso corpo só vai produzir essa única
proteína, não o vírus inteiro.
E sem o resto do vírus, a proteína Spike não
consegue causar nenhuma doença.
Percebam que o objetivo dessas vacinas de RNA
mensageiro é o mesmo das vacinas “convencionais”.
A grande diferença entre elas é que as vacinas
de RNA mensageiro usam uma plataforma diferente.
Ao invés de um vírus ou partes dele, a gente
tá usando um RNA.
Não é mais necessário cultivar grandes quantidades
do vírus em laboratório, para depois serem inativados e usados como matéria
prima pra vacina.
Como é o nosso corpo que vai fazer o trabalho,
isso torna o processo de produção da vacina muito mais fácil e rápido.
Mas a verdade pessoal é que toda essa
revolução não para por aqui.
A tecnologia de vacinas de RNA mensageiro pode
revolucionar a forma com que combatemos muitas doenças, incluindo o câncer e
doenças genéticas consideradas incuráveis hoje.
Você tem ideia do que é possível fazer com essa
tecnologia de RNA?
Pensa comigo… agora nós podemos enviar ordens
pras células fabricarem ou deixarem de fabricar a proteína que a gente quiser.
E isso abre portas para a cura de várias
doenças.
O RNA mensageiro pode ser usado para guiar a
produção de uma proteína que falta no organismo, ou que é produzida de forma
defeituosa.
Vejamos o caso da fibrose cística, uma doença
genética que tem como resultado a produção de uma proteína defeituosa.
Na fibrose cística, a proteína que forma o
canal que controla o fluxo de água e cloro para dentro das células está
alterada.
E um dos resultados disso apesar de complexo é
o seguinte:
As células produzem um muco extremamente
espesso, que se acumula e bloqueia as vias aéreas e outros órgãos.
O que está sendo testado agora é a entrega
para as células dos pulmões, por meio de nebulização, de um RNA mensageiro que
vai conter informação pras células produzirem a proteína normal, sem alteração.
Olha que doido!
E no combate ao câncer, podemos fabricar um
RNA mensageiro capaz de guiar a produção de uma proteína específica que está
presente na célula do câncer.
Então quando essa proteína for produzida
dentro do corpo, o sistema imune vai reconhecer e vai montar uma resposta imune
melhor e mais direcionada que pode atacar o câncer.
Eu sei que essas ideias parecem ter saído de
um livro de ficção.
Mas elas já são realidade.
Os testes clínicos já começaram e já estão
dando os primeiros resultados.
E eu tenho certeza que vem muito mais por aí.
E você, se animou com essa história?
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