Enquanto ouvimos uma música, geralmente não paramos pra pensar que várias coisas precisam acontecer rapidamente nos bastidores dos nossos ouvidos e cérebros até que possamos reconhecer e apreciar esse ar sonoro que chamamos de música.
A música envolve a organização de sons de diferentes formas e faz parte de praticamente todas as culturas conhecidas até hoje.
Os sons ouvidos durante uma música são o resultado de vibrações no ar em diferentes frequências que estimulam nosso sistema auditivo.
Percebemos a música a partir de alguns atributos perceptuais, como por exemplo o tom, o ritmo, a intensidade, o timbre e a localização dos sons.
Cada atributo é processado por diferentes partes do sistema auditivo até que tenhamos a consciência dos sons.
Por exemplo, o córtex auditivo primário é a primeira parte do cérebro a processar informações básicas da música como o tom e o ritmo.
Já as nossas reações emocionais à músicas dependem principalmente do funcionamento das amídalas cerebrais, do núcleo accumbens, do hipocampo e do cerebelo.
Geralmente o cérebro é capaz de processar cada atributo e depois juntá-los para formar um todo.
É assim que, de uma forma quase misteriosa e imediata, somos capazes de apreciar a beleza presente em obras como as compostas por Tchaikovsky e Chopin, por exemplo.
Mas em alguns casos, a maquinaria cerebral responsável pela experiência musical não funciona como deveria.
Uma paciente do neurologista Oliver Sacks que tinha um nível grande de surdez passou a escutar sons e músicas que não estavam sendo realmente tocadas no ambiente depois de tomar uma medicação receitada por outro médico para reduzir suas dificuldades auditivas.
A retirada da medicação não afetou a frequência das suas alucinações musicais que continuaram intrusivas, altas e eram relacionadas à musicas que ela conhecia já há muito tempo.
Sacks concluiu que o sistema auditivo da paciente devia estar gerando sua própria estimulação auditiva para manter-se ativo já que vinha recebendo pouca estimulação.
Entretanto, permanece o mistério sobre o que a medicação teve a ver com isso.
Outra experiência musical pouco comum é o ouvido absoluto.
Pessoas com essa capacidade conseguem identificar com facilidade o tom de um som mesmo sem ser exposto a um som de referência.
Essa habilidade serve tanto para o som de uma corda de violão quanto o som de alguém assoando o nariz.
De acordo com algumas pesquisas, apesar do ouvido absoluto ser pouco comum, a maior parte das crianças talvez seja capaz de desenvolvê-lo se forem treinadas apropriadamente.
Isso parece ser especialmente verdadeiro se ocorrer antes dos 8 anos de idade como também ocorre com muitas pessoas com ouvido absoluto.
Uma experiência musical bem mais comum é o que é conhecido como vermes de ouvido ou imageamento musical invonluntário.
Sabe quando uma música entra na sua cabeça e fica se repetindo sem que você consiga controlar?
Pois é.
Não sabemos muito bem o porquê nossos cérebros ficam presos a esses vermes de ouvido.
Sabemos, por exemplo, que músicas mais familiares, com contornos melódicos mais parecidos com as das músicas ocidentais mais populares e músicas com estruturas de intervalo incomuns, como músicas com saltos ou repetições inesperadas, grudam mais na cabeça.
Pessoas que cantam mais também tendem a viver com maior frequência essa experiência.
Já explicamos aqui no site que quando as pessoas tentam suprimir pensamentos intrusivos, a tendência é que esses pensamentos não sejam suprimidos e talvez até se intensifiquem.
A mesma lógica serve aqui: se esforçar muito pra tirar uma música da cabeça pode ser pouco eficaz.
Se você quiser tirar uma música da sua cabeça, primeiro tente ouvir a música inteira de novo.
Isso costuma resolver, mas se não resolver, tente ouvir outra música ou, em último caso, aceite que você está com um verme de ouvido e tente deixar a música sumir naturalmente da sua mente.
Algumas pesquisas indicam que músicos possuem diferenças neurais e cognitivas quando comparados com não-músicos especialmente quando iniciaram o seu treinamento musical antes dos sete anos.
O corpo caloso, o córtex motor e o cerebelo dos músicos, tendem a possuir volumes maiores do que os de não-músicos, por exemplo.
Crianças que recebem treinamento musical desde cedo podem ter maiores níveis de habilidades de leitura, inteligência, maior facilidade de aprender uma nova língua e melhor desempenho acadêmico.
Também existem evidências de que a prática musical pode ajudar a prevenir o declínio cognitivo em idosos.
Ainda falaremos outras coisas sobre música no futuro, mas se quiser saber mais sobre as relações estranhas entre o cérebro e a música, nós recomendamos o livro "Alucinações musicais" de Oliver Sacks.